Figura 5 – Colégio Instituto Nossa Senhora D’Assunção (INSA) entre - 1965-1970. Fonte: Acervo pessoal de Iraci do Socorro Serrão (Pote) |
Esta construção poderia muito bem ter se tornado um
dos pontos de referência para preservação da memória histórica de Oeiras do
Pará. Não fosse o descaso, o desprezo e até por assim dizer o desconhecimento
da importância de se preservar uma construção para que ela se torne um lugar de
memória.
A construção da qual falo, era um prédio (figura 5)
localizado á Avenida 15 de Novembro, s/n, em pleno bairro central da cidade de
Oeiras do Pará, precisamente à beira rio, próximo à área de embarque e
desembarque de pessoas, tanto as que se dirigem à capital Belém, como da
população ribeirinha que vêm até a cidade para fazer suas compras mensais ou
procurar atendimento médico-hospitalar, além de outros serviços.
Essa construção era também ponto de referência de
localização geográfica, como se a população oeirense se norteasse por ela, por
exemplo, quando uma pessoa pedia informação sobre alguém que morasse a
beira-rio ou sobre algum prédio comercial naquela região, a população reagia
quase que da mesma forma: “[...] fica ao lado direito ou esquerdo do hospital”
ou após a desativação “[...] fica do lado direito ou esquerdo do hospital
velho”.
Sua construção iniciou no ano de 1958, sob a
supervisão de padre Henrique Riemslag (membro da Congregação de São Vicente de
Paulo), D. Cornélio Veerman e pelos esforços do deputado Estadual Joaquim
Castro Lenas e do prefeito do município, na época, Oséas Pereira Magalhães. A
verba usada na construção desse prédio advinha de várias fontes como, por
exemplo, do Governo Federal, Municipal e Entidades europeias, principalmente
holandesas.
A inauguração desse prédio dar-se-á no mandato do
então prefeito José Ribeiro da Costa, candidato do PDS, que naquele ano retornava
ao governo. Em meados de março de 1961, chega à Oeiras do Pará o padre Bernardo
Gales e, em 18 de março de 1961 as Irmãs Filhas da Caridade: Irmã Silvia, Irmã
Felomena e Ana Maria (Figura 6), e dia 19 de março deste mesmo ano aconteceu a
inauguração do prédio com o nome de Instituto de Nossa Senhora D’Assunção
(INSA), que acaba por se tornar um marco histórico para educação do município,
uma vez que este contava com apenas um grupo escolar com duas pequenas salas de
aula, localizado próximo à sede da prefeitura, exatamente na Praça da Bandeira.
A importância
mencionada quanto à construção desse prédio dá-se pelo fato de na região
Tocantina, naquela época, haver um grande problema, a quase total falta de
educação formal. Em Oeiras do Pará, isso era
realidade, e esse problema começa a ser resolvido com a chegada dos padres
Lazaristas ou padres da congregação de São Vicente de Paulo e das Irmãs Filhas da Caridade ou irmãs Vicentinas (figura 6),
sendo que naquele tempo havia quase que uma ausência total do Estado na área da
educação.
Este prédio ostentava a opulência de uma das
maiores construções de sua época na cidade de Oeiras do Pará, e demonstrava
ainda naquele momento a influência da Igreja Católica em decisões políticas,
tanto que este prédio, após sua inauguração foi entregue aos cuidados dos
religiosos que hora atuavam no município.
Dessa forma passou a pertencer definitivamente a
Prelazia de Cametá, que no ano 2014, de acordo com orientação do gestor
municipal, e sob alegação de estar preste a ruir, portanto representava um
risco aos transeuntes, executam a demolição daquela construção. Não levando em
consideração toda a memória daquele lugar, e em mais um ato de descaso com o
patrimônio histórico e de desconhecimento de sua importância para a história dessa
localidade, o prédio deixou de existir.
A história deste prédio faz menção aos usos sociais
pelos quais foi submetido. Primeiramente serviu como uma instituição de ensino,
ligado a congregação das irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, que
atuaram na região desde o ano de 1961 até por volta de 1983, e que por alguma
razão que desconheço no momento deixaram a cidade e, consequentemente a
instituição que funcionava naquele prédio cedeu lugar a outra.
Desde então passou a funcionar ali uma unidade
básica de saúde do Sistema Único de Saúde-SUS. Daí ser mencionado no início
deste capítulo como local de aquisição de conhecimento e de experiências de vida,
pois alí muitos oeirenses aprenderam a ler e escrever, e consequentemente foi
onde muitos nasceram.
Figura 7 – Alunos do INSA/Oeiras do Pará.Fonte: Acervo pessoal de Evandro Carlos Miranda Cardoso. Foto Pe. Arnold Konings. Concedida por Gerson Miranda (Bigú) |
Na foto (Figura 7) ao fundo temos o prédio do
instituto, à frente um grupo de alunos que fizeram parte da história deste
lugar. Nesta foto podemos ver detalhes das portas e janelas em formato
quadrangular com folhas de madeira. Os alunos vestindo uniformes
característicos da época e que eram exigidos pela direção do colégio.
O fato é que hoje, não existem sequer as ruínas
desta construção, apenas um vazio toma conta do espaço geográfico que hora se
formou no centro da cidade e, um vazio ainda maior na história do município de
Oeiras do Pará. Como confidenciou um dos moradores entrevistados “[...] a derrubada do hospital velho, foi uma afronta a
nossa memória, a nossa história, ao povo de Oeiras”.
O artista local, Sr. Junior Leitão,
com a intenção de recuperar um pouco da memória histórica da cidade de Oeiras do
Pará e ao mesmo tempo indignado com a demolição do prédio do INSA, aqui tratado
como prédio do “hospital velho”, reproduz em uma tela (Figura 8), a frente da
cidade das décadas de 60-70.
O ponto macro dessa pintura é mostrar o prédio em
questão. Assim como não deixar que as gerações contemporâneas desconheçam a
existência desse prédio, não registrando em suas memórias o quanto representou
aquele local e as instituições que dele fizeram uso.
Figura 8 – Pintura em tinta acrílica
mostrando como era a frente da cidade de Oeiras do Pará – 1960-1970.
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Trechos retirados da Monografia
PINHEIRO, José Paulo Guimarães. O PATRIMÔNIO HISTÓRICO MATERIAL NA CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA HISTÓRICA DE OEIRAS DO PARÁ. Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito para obtenção do grau de Licenciado Pleno em História. UFPA. campus Cametá-PA, 2016